quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O Cometa

Sobre "O Cometa" Rodrigo Amarante comenta:
“Também é sobre a falta. Mas é a falta de um amigo querido, que é o poeta Ericson Pires, que morreu no ano passado. Foi um grande amigo que conheci logo que entrei na PUC-RJ. Já era veterano e nós nos tornamos grandes amigos. E ele foi meu grande amigo, mas também meu professor, e um cara que me ensinou muito. Grande cabeça, grande louco, culto, intelectual. Essa música foi um retrato dele à minha moda. Também é uma coisa que tem a ver com a saudade que eu sinto dele.
(...) ‘O Cometa’ é [Henry] Mancini puro: é meu amor pelo Peter Sellers e os filmes do Blake Edwards, na genialidade absurda que ele teve de escrever temas de comedia com uma delicadeza e uma inteligência absurda, não subestimando.” 
[Revista Rolling Stone. Rodrigo Amarante comenta as onze faixas do novo disco, Cavalo - http://rollingstone.uol.com.br/galeria/rodrigo-amarante-comenta-onze-faixas-do-novo-disco-icavaloi/#imagem8 ]


O Cometa
Rodrigo Amarante
Bruto bailarino
Delicado que é
Olhos de menino
Ginga de pajé

Pena de malandro
Rima de doutor
Sua faixa preta
De amarelo decorou

Mas o decoro, o coro
O status quo
Ele dizia
Cara, assim, o ó!
E sua força era
A sua voz
Ainda é, será assim
Entre nós

Foi meu professor
Foi meu cúmplice
Sua mente, eu sei
Só chego ao índice
Fera dos palácios
Peste dos jardins
Orquestrava lata
E traduzia do latim

Mas o decoro, o coro
O status quo
Ele dizia:
Cara, assim, o ó!
E sua força era
A sua voz
Ainda é, será assim
Entre nós

O cometa passou
Marcou meu corpo
Está escrito
O cometa passou
Riscou o tempo
E foi



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Tétis apresenta a Máquina do Mundo a Vasco da Gama



"Vês aqui a grande Máquina do Mundo,
etérea e elemental, que fabricada
assim foi do Saber, alto e profundo,
que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
globo e sua superfície tão limada,
é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
que a tanto o engenho humano não se estende"

"Este orbe que, primeiro, vai cercando
os outros mais pequenos que em si tem,
que está com luz tão clara radiando
que a vista cega e a mente vil também,
Empíreo se nomeia, onde logrando
puras almas estão daquele Bem
tamanho, que ele só se entende e alcança,
de quem não há no mundo semelhança."

"Aqui, só verdadeiros, gloriosos
divos estão, porque eu, Saturno e Jano,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
fingidos de mortal e cego engano.
Só para fazer versos deleitosos
servimos; e, se mais o trato humano
nos pode dar, é só que o nome nosso
nestas estrelas pôs o engenho vosso."

"Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
causas obra no Mundo, tudo manda.
E tornando a contar-te das profundas
obras da Mão Divina veneranda,
debaixo deste círculo onde as mundas
almas divinas gozam, que não anda,
outro corre, tão leve e tão ligeiro
que não se enxerga: é o Móbil Primeiro."

"Com este rapto e grande movimento
vão todos os que dentro tem no seio;
por obra deste, o Sol, andando a tento,
o dia e noite faz, com curso alheio.
Debaixo deste leve, anda outro lento,
tão lento e sobjugado a duro freio,
que enquanto Febo, de luz nunca escasso,
duzentos cursos faz, dá ele um passo."

"Olha estoutro debaixo, que esmaltado
de corpos lisos anda e radiantes,
que também nele tem curso ordenado
e nos seus axes correm cintilantes.
Bem vês como se veste e faz ornado
co largo Cinto d' Ouro, que estelantes
animais doze traz afigurados,
aposentos de Febo limitados."

"Debaixo deste grande firmamento,
vês o céu de Saturno, deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
e Marte abaixo, bélico inimigo;
o claro Olho do Céu, no quarto assento,
e Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
com três rostos, debaixo vai Diana."

"Em todos estes orbes, diferente
curso verás, nuns grave e noutros leve;
ora fogem do centro longamente,
ora da Terra estão caminho breve,
bem como quis o Padre omnipotente,
que o fogo fez e o ar, o vento e a neve,
os quais verás que jazem mais adentro
e tem co mar a Terra por seu centro."

"Neste centro, pousada dos humanos,
que não sòmente, ousados, se contentam
de sofrerem da terra firme os danos,
mas inda o mar instável exprimentam,
verás as várias partes, que os insanos
mares dividem, onde se aposentam
várias nações que mandam vários reis,
vários costumes seus e várias leis."

[Máquina do Mundo em Os Lusíadas, Canto X - Luís Vaz de Camões]

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sóis


Milky Way-100 billion stars

Sóis
Mestre Ambrósio

No infinito
Do vão do espaço
Se espaça o tempo,
Não há cansaço

No infindo imenso
De um tempo aço
Se espessa o vão
Que liberta o traço,
Forte num abraço

Há muito mais
Do que esperamos ser,
Tem mais além
De onde podemos ver

Mais muito há
Do que pensamos ter,
Além do mais
Do que queremos crer

Há bem mais sóis
Crestando entre as estrelas

Vamos andando
Por aí

Brilhar
É o espaço sideral

Há bem mais sóis

Há bem mais sóis,
Crestando entre as estrelas
Confusos, tentamos vê-las
Confusos, tentamos tê-las
Confusos, tentamos ser
As estrelas!