domingo, 22 de setembro de 2013

Ursa Maior e Ursa Menor


As constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor eram duas auxiliares preciosas na navegação no hemisfério norte, principalmente na Era dos Descobrimentos.

A Estrela Polar, que pertence à Ursa Menor, está praticamente sobre o Pólo Norte Celeste, e a sua altura a partir de um lugar é quase coincidente com o valor da latitude do mesmo lugar.

Quando se viaja para Sul, estas constelações vão-se aproximando do horizonte, mergulhando progressivamente no mar, até se tornarem invisíveis. Este fenômeno o poeta Luís Vaz de Camões descreve a seguir.



( V, 15 )

Assi, passando aquelas regiões
Por onde duas vezes passa Apolo,
Dous invernos fazendo e dous verões,
Enquanto corre dum ao outro Pólo,
Por calmas, por tormentas e opressões,
Que sempre faz no mar o irado Eolo,
Vimos as Ursas, a pesar de Juno,
Banharem-se nas águas de Neptuno.

[Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões]


domingo, 25 de agosto de 2013

Marco marciano

Nosso vizinho vermelho sempre foi recoberto de muito mistério e vem durante séculos alimentando a imaginação das pessoas.
Uma das grandes fantasias é a existência de vida inteligente em Marte e a expectativa de comunicação interplanetar. Esse é o mote de nossa análise de hoje. Em que o poeta expõe vários destes anseios e fantasias, não antes de se colocar na condição de observador de todos os fatos, produzindo sua loa*. De Marte, ele vê os olhares contemplativos dos terráqueos que tentam, de todas as formas, captar e entender o que se passa e se passou no planeta vermelho, seja construindo radares, primeiro em Gibraltar, e depois elevando as construções exponencialmente, seja enviando satélites de observação ao espaço. Tudo a fim de estabelecermos algum tipo de comunicação e quiçá uma internet interestelar de radar.
Mesmo com tantos recursos despejados na corrida espacial, o máximo que conseguimos foi o envio de algumas sondas. Levando-se em consideração a ideia de que espaçonaves voadoras marcianas nos visitam, podemos chegar a conclusão de que estamos atrasados no quesito "observação" em relação aos nossos vizinhos.
O aspecto da superfície de Marte impressiona e amedronta. A coloração avermelhada levou os romanos a batizarem o planeta com este nome em referência ao deus da guerra de sua mitologia. O helenos o batizaram de Ares, que além de deus da guerra também é o deus da fúria. Já para os babilônicos, Marte era "Nergal", a estrela da morte. Diante disso, seria mais seguro observarmos a partir de Fobos ou Deimos, seus satélites naturais. Fobos propiciaria uma vista especial, já que é o satélite natural mais próximo de um planeta no Sistema Solar, menos de seis mil quilômetros. Pra se ter um parâmetro, a Lua está a 384.405km da Terra. De tão perto, veríamos planaltos, montanhas e penhascos vermelhos, calotas polares, precipícios, cordilheiras e quem sabe até um rosto humano. Mas, certamente, o que mais impressionaria seria o Monte Olimpo, de onde Vulcano tentaria nos pegar.

Acompanhe Lenine e seu Marco Marciano.

O Marco Marciano
Lenine / Bráulio Tavares

Pelos auto-falantes do universo
Vou louvar-vos aqui na minha loa
Um trabalho que fiz noutro planeta
Onde nave flutua e disco voa:
Fiz meu marco no solo marciano
Num deserto vermelho sem garoa

Este marco que eu fiz é fortaleza.
Elevando ao quadrado Gibraltar!
Torreão, levadiça, raio-laser
E um sistema internet de radar:
Não tem sonda nem nave tripulada
Que consiga descer nem decolar.

Construí o meu marco na certeza
Que ninguém, cibernético ou humano.
Poderia romper as minhas guardas
Nem achar qualquer falha no meu plano
Ficam todos em Fobos ou em Deimos
Contemplando o meu marco marciano

O meu marco tem rosto de pessoa
Tem ruínas de ruas e cidades
Tem muralhas, pirâmides e restos
De culturas, demônios, divindades:
A história de Marte soterrada
Pelo efêmero pó das tempestades

Construí o meu marco gigantesco
Num planalto cercado por montanhas
Precipícios gelados e falésias
Projetando no ar formas estranhas
Como os muros Ciclópicos de Tebas
E as fatais cordilheiras da Espanha

Bem na praça central. um monumento
Embeleza meu marco marciano:
Um granito em enigma recortado
Pelos rudes martelos de Vulcano:
Uma esfinge em perfil contra o poente
Guardiã mortal do meu arcano.



Saiba mais sobre Marte, Fobos, Deimos, e Monte Olimpo.
*Saiba o que é loa.
Pergunte ao Wolframalpha sobre Marte clicando AQUI.
Conheça mais sobre o artista, que este que vos escreve muito admira, em seu site: http://www.lenine.com.br/

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Febe [2]




( IV, 75 )

...

Não disse mais o rio ilustre e santo,
Mas ambos desaparecem num momento.
Acorda Emanuel c'um novo espanto
E grande alteração de pensamento.
Estendeu nisto Febo o claro manto
Pelo escuro Hemisfério sonolento;
Veio a manhã no céu pintando as cores
De pudibunda rosa e roxas flores.


[Luiz Vaz de Camões - Os Lusíadas]

domingo, 30 de junho de 2013

Nemesis


Há uma teoria, elaborada em 1980 por astrônomos nos Estados Unidos, de que o Sistema Solar seria um sistema binário, tendo uma estrela irmã batizada de Nêmesis.

Segundo esta teoria, Nêmesis e o Sol tem um núcleo de gravidade comum, orbitando um ao outro. E Nêmesis seria responsável por afetar a estabilidade da Nuvem de Oort, atravessando-a e atirando diversos corpos direto para o Sistema Solar Interior, o que explicaria a periodicidade de grandes cataclismos causados por meteoros.

Da mesma forma também explicaria a localização e órbita do planeta-anão Sedna.

Órbita de planetas e um "segundo sol" são a temática de uma canção de Nando Reis, aqui apresentado na voz de Cássia Eller. Confira.


O Segundo Sol
Nando Reis 


Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza

De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa

Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza

De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação

Explicação, não tem explicação
Explicação, não
Não tem explicação
Explicação, não tem
Não tem explicação
Explicação, não tem
Explicação, não tem
Não tem



Saiba mais sobre Nêmesis AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.
Saiba mais sobre a Nuvem de Oort e Sedna.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Via Láctea

















“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas”

[Olavo Bilac]

Saiba mais sobre a Via Láctea.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Lua Vermelha




Lua vermelha
Quase sem amor
Minha luz alheia
Brilho sem calor
Lua vermelha
Branca lua preta
lambe a minha orelha
Com a sua cor

Lua vermelha
Dez da madrugada
Sapos na calçada
De nenhum país
Lua vermelha
Noite sem Luís
Toda sertaneja
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis

Minha namorada
Flor desabrochada
Leite de pequim
Lua vermelha
Noite que menstrua
Lua lua lua
Por cima de mim

Lua vermelha
Pedra que flutua
Que ilumina o poste
Que ilumina a rua
Lua vermelha
Meia de Luís
Toda sertaneja
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis

Lua vermelha
Ave flecha pluma
Pérola madura
Sono do dragão
Lua vermelha
Só uma centelha
Dura enquanto dura
Bolha de sabão

Lua vermelha
Fora da bandeira
Bola japonesa
No céu do sertão
Lua vermelha
Negra de Luís
Toda sertaneja
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis
Eu sempre te quis

[Carlinhos Brown/Arnaldo Antunes]

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terça-feira, 4 de junho de 2013

Febe


















( I, 56 )

Isto dizendo, o Mouro se tornou
A seus batéis com toda a companhia;
Do Capitão e gente se apartou
Com mostras de devida cortesia.
Nisto Febo nas águas encerrou,
Co'o carro de cristal, o claro dia,
Dando cargo à irmã, que alumiasse
O largo mundo, enquanto repousasse.

[Luis Vaz de Camões - Os Lusiadas]

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sábado, 1 de junho de 2013

Meteoros



Meteoros vão chover esta noite
Acender o facho do desejo
Tempos claros vão se abrir esta noite

Quem vai chegar
Vai trazer no sorriso o sol
úmido
De uma manhã
E o cabelo solto
Como o vento,
que é macio de tocar…

Olhos de céus
Infinitos a convidar
Como o mar
do verão
Com seus braços quentes
Astros tão brilhantes
virão mergulhar…

Meteoros vão chover esta noite
Acender o facho do desejo
Tempos claros vão se abrir
esta noite

Quem vai chegar
Vai trazer mil canções na voz
Toda a paz
crepuscular
Que há no limiar das trevas
Com as novas iluminações…

Vem misturar
O seu corpo perfeito ao meu
Apogeu
De um pulsar
Que há na intersecção
Da carne com o espírito
E do sonho com a ação…

Meteoros vão chover esta noite
Acender o facho do desejo
Tempos claros vão se abrir
Esta noite

[Guilherme Arantes]

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sábado, 25 de maio de 2013

Não sei se os astros mandam neste mundo













Não sei se os astros mandam neste mundo,
Nem se as cartas —
As de jogar ou as do Tarot —
Podem revelar qualquer coisa.
Não sei se deitando dados
Se chega a qualquer conclusão.
Mas também não sei
Se vivendo como o comum dos homens
Se atinge qualquer coisa.
Sim, não sei
Se hei-de acreditar neste sol de todos os dias,
Cuja autenticidade ninguém me garante.
Ou se não será melhor, por melhor ou por mais cómodo,
Acreditar em qualquer outro sol —
Outro que ilumine até de noite. —
Qualquer profundidade luminosa das coisas
De que não percebo nada…
Por enquanto
(Vamos devagar)
Por enquanto
Tenho o corrimão da escada absolutamente seguro.
Seguro com a mão —
O corrimão que me não pertence
E apoiado ao qual ascendo…
Sim… Ascendo
Ascendo até isto:
Não sei se os astros mandam neste mundo…

(Álvaro de Campos - Livro de Versos)

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sábado, 4 de maio de 2013

Da minha aldeia

















Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo….
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

(Alberto Caeiro – O Guardador de rebanhos)

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

O astronauta

Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor
Será que por acaso
A flor sabe que é flor
E a estrela Vênus
Sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor
O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor
Mas você, sei lá
Você é uma mulher, sim
Você é linda porque é

(Vinicius de Moraes)

Saiba mais sobre os Astronautas, órbita e Vênus.


domingo, 24 de março de 2013

É lua cheia. A casa está vazia.



Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia -
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- É lua nova -
E revestida de luz te volto a ver.

[Hilda Hilst - Júbilo Memória Noviciado da Paixão, 1974]

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